Quando o cultivador já estabilizou a sua coleção e consegue boas florações das espécies e híbridos mais comuns, surgem novas espécies, com outras particularidades de cultivo que podem ser novos desafios para os amantes de Paphiopedilum.
É um género que compreende quase uma centena de espécies oriundos de todo o sul e sudeste asiático desde os Himalaias até à China, Tailândia, Malásia, Filipinas e tantos outros países asiáticos. São plantas simpodiais, compostas por folhas mais ou menos estreitas com comprimentos e colorações variáveis. Muitas são completamente verdes e outras tesseladas (pintalgadas ou às manchas). De uma forma muito generalizada, dizemos que os Paphiopedilum de folhas verdes gostam de temperaturas mais baixas e que os de folha manchada gostam de temperaturas e ambientes mais quentes. No entanto, se formos analisar as dezenas de espécies uma a uma, chegamos à conclusão que não é bem assim. Este género é tão variado que encontramos também Paphiopedilum de folhas verdes que precisam de calor e alguns de folhas manchadas que preferem ambientes mais frescos. Chamemos-lhes as exceções à regra, se assim o entenderem.
Algumas características comuns em todos os Paphiopedilum são as suas raízes acastanhadas e cheias de pilosidades e a forma como as folhas se dispõem, crescendo umas dentro das outras a partir de um mesmo ponto, as mais velhas envolvendo as mais recentes, sendo o número de folhas variável, consoante as espécies. Outra das características comuns é a forma das flores, constituídas por uma sépala dorsal, as duas sépalas laterais fundidas numa só estrutura – o sinsépalo – duas pétalas e o labelo em forma de bolsa ou, como é conhecido normalmente, por parecer um sapato, um sapatinho.
A Seção Corypedilum
Não há um verdadeiro consenso entre os taxonomistas e as divisões dentro do género Paphiopedilum. Dependendo dos autores, temos mais ou menos sub-genus e mais ou menos seções e divisões. No entanto há alguma concordância num grupo de espécies que se destacam em algumas características. São nove espécies, cinco originárias de Bornéu, três das Filipinas e uma da Papua Nova-Guiné. São multiflorais, o que significa que podemos obter várias flores abertas em simultâneo na mesma haste floral e as pétalas destacam-se pelo seu comprimento e por crescerem torcidas em espiral dando um bonito efeito visual. As espécies mais procuradas são o Paphiopedilum philippinense e o P. rothschildianum.
Crescem geralmente em maciços calcários, com as raízes escondidas nas fissuras das rochas, mas também podem crescer no solo florestal ou mesmo agarrados a troncos de árvores em locais com boa luminosidade desde que não apanhem sol direto.
O CULTIVO
Por serem plantas que atingem bons tamanhos há tendência de utilizar vasos demasiado grandes. Deveremos escolher o vaso tendo em conta o tamanho da raiz e não das folhas. Um vaso de barro poderá dar mais estabilidade, mas podem usar-se igualmente vasos de plástico. Como substrato, uma mistura de casca de pinheiro de 1-2 cm misturado com um pouco de perlite ou mesmo musgo de esfagno. Muitos cultivadores juntam algumas pedrinhas calcarias ao substrato simulando o habitat onde são encontrados na natureza. Os Paphiopedilum gostam de ter sempre o substrato ligeiramente húmido e as regas deverão ser a cada 4 ou 5 dias. As temperaturas não devem baixar dos 12 graus durante a noite nos meses mais frios podendo chegar aos 30 nos dias mais quentes. Gostam de boa luminosidade, sem sol direto, durante todo o ano, mas no Inverno podemos regar um pouco menos (1 x por semana). Quinzenalmente devemos fertilizar com um adubo próprio para orquídeas exceto no inverno.
São orquídeas que podem não crescer tão rapidamente quanto outros sapatinhos e podem ser demorados a estabilizar-se e a desenvolver o sistema radicular. No entanto, assim que são suficientemente maduros para florescer, o que acontece normalmente no final da Primavera ou início de Verão, deixam qualquer um maravilhado com o exotismo e exuberância das suas florações.
As 9 espécies:
- Paphiopedilum adductum;
- glanduliferum;
- kolopakingii;
- philippinense;
- randsii;
- rothschildianum;
- sanderianum;
- stonei;
- supardii.
Para os amantes de orquídeas-sapatinho, estas cinco espécies serão talvez as de cultivo mais difícil. São pouco comuns à venda e quando aparecem são normalmente plantas caras. De extraordinária beleza, constituem um verdadeiro desafio, mesmo para o orquidófilo mais experiente.
As plantas nunca ficam muito grandes, são constituídas por 3 a 6 folhas tesseladas, com manchas verde escuras e verde-acinzentado na face superior e manchas cor-de-vinho ou púrpura no verso da folha. Cada haste floral dá geralmente uma única flor (raramente duas) com tamanhos entre os 3 e os 9 cm de largura. A cor predominante é o branco, com um número variável de pintas púrpura.
A Seção Brachypetalum
São cinco espécies originárias da Ásia (Burma, Laos, Vietname, sul da China, Camboja, Tailândia e Malásia), crescem em solos e escarpas rochosos, com predominância de rocha calcária, as raízes penetram nas fissuras das rochas muitas vezes cobertas de manta morta. Crescem em locais húmidos e com temperaturas tropicais, em zonas sombreadas por árvores baixas e arbustos.
O Paphiopedilum bellatulum tem folhas curtas, até 14cm de comprimento e até 5 cm de largura e com a habitual dobra longitudinal a meio. As hastes florais são muito baixas, não vão além dos 5 cm de altura, as flores brancas com pintas grossas púrpura ficam a tocar nas folhas, não excedem os 8 cm de largura. O labelo é mais fino e tubular que a maioria dos Paphiopedilum.
Muito semelhantes ao anterior, o Paphiopedilum godefroyae tem o mesmo tipo de folhas, sendo estas um pouco mais finas. O pé da flor pode crescer até aos 8 cm e a flor é sensivelmente maior que a dos P. bellatulum. A flor é também branca, mas as pintas de cor púrpura são mais grosseiras e juntas, formando manchas ou riscas nas sépalas e pétalas. O labelo, também com forma tubular é geralmente branco, sem pintas.
Ainda com a mesma aparência mais arredondada e labelo tubular, o Paphiopedilum concolor tem também folhas manchadas que podem atingir os 16 cm de comprimento e os 4 cm de largura. A flor é de um branco mais leitoso, com as extremidades das sépalas e pétalas amareladas ou de um verde-seco e finamente pintalgadas, incluindo o labelo. Nesta espécie existe a variação longipetalum em que as pétalas e a sépala dorsal são mais alongadas perdendo a forma arredondada.
O Paphiopedilum niveum é já uma planta maior, cujas folhas podem atingir os 19 cm de comprimento e 4 cm de largura. A haste floral e bastante alta, podendo crescer até os 25cm e a flor com tamanhos entre os 6 e os 8 cm de diâmetro. Uma flor branca, levemente pintalgada ao centro, mais juntamente ao labelo, muitas vezes parecendo somente um fino pó rosa-escuro. O labelo é já mais arredondado do que as espécies anteriores.
A última espécie foi inicialmente considerada uma variação “anã” do P. niveum, mas hoje em dia é descrito como uma espécie diferente. É o Paphiopedilum thaianum, a espécie mais pequena, com folhas que só crescem até aos 10 cm de comprimento, por 1 a 3 cm de largura e a flor com cerca de 5 cm num pé que pode crescer até aos 17cm. A flor, raramente duas por haste, é igualmente branca levemente pontilhada de púrpura.
Em qualquer destas espécies, as flores duram entre 4 e 6 semanas. Podemos encontrar à venda algumas variações de cor, sendo as albas especialmente bonitas por serem de um branco puro, sem pintas. Estas cinco espécies também são muito usadas para hibridações e foram já criados diversos híbridos de rara beleza.
O Cultivo
Estes são definitivamente os Paphiopedilum que confirmam a regra de que as espécies de folhas manchadas preferem ambientes quentes. Nesta seção, o P. niveum, P. thaianum e o P. godefroyae gostam de temperaturas entre os 18 e 28 graus e os Paphiopedilum bellatulum e P. concolor não são tão exigentes podendo ser cultivados nunca abaixo dos 15 graus. Eles podem resistir a temperaturas mais baixas, mas para florir, estas são as temperaturas ideais.
Estes sapatinhos não gostam de ser reenvasados e muitos cultivadores plantam-nos em vasos um pouco maiores do que seria normal, geralmente taças pouco profundas, mas largas. De acordo com os habitats onde são encontrados, o substrato que se utiliza é uma mistura de casca de pinheiro com um pouco de musgo de esfagno e pequenas pedras calcárias. O calcário e o cálcio são importantes para o sucesso no cultivo e floração destas espécies.
De resto, são semelhantes aos restantes Paphiopedilum, gostam de ter as raízes sempre húmidas sem estarem ensopadas, devem ser fertilizados pelo menos uma vez por mês com adubo dissolvido na água de rega e preferem sombras a locais luminosos (nunca com sol direto).
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