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O Natal

O Natal perfeito só existe na nossa memória. Não aconteceu e nunca existiu, mas algures no nosso cérebro, num lugar recondito, está o Natal que todos os anos queremos repetir, reviver.

O meu Natal é uma memória de infância, um Natal que não foi perfeito mas um Natal, não sei quando, em que sem dar por isso, apaguei tudo o que é/foi negativo e só restaram as memórias do que aconteceu, ou talvez nem tenha acontecido.

Primeiro porque na infância, tudo é visto com um filtro da inocência, da beleza, da despreocupação. Os problemas passam-nos ao lado. É a magia do Natal. E porque somos muito menos exigentes.

– Em que ano foi?

Não conseguimos precisar mas foi muito bom. Foi o melhor Natal.

O Natal das crianças, o Natal onde tanta gente ainda era viva e haviam tantos sorrisos e pratos de fritos de batata doce que não sabem aos de hoje. Sabem às memórias afectivas, ninguém, por mais que tente, consegue repetir essas receitas.

O meu Natal é uma manta de retalhos quentinha e aconchegante. Um retalho é a família próxima, outro é tudo o que se fazia por prazer, outro as pessoas que já partiram, outro a luz das velas que nem me lembro se foram acesas, uma ou outra prenda muito desejada, talvez livros da Enid Blyton, o mistério do desconhecido, do encanto das fadas ou dos santos. Outro retalho, o fazer dos doces, em casa, no fogão de lenha, logo de manhãzinha, com a minha mãe ou a ajudar a decorar bolos Rei na casa da tia Prazeres. Outro retalho foram as histórias contadas, livros lidos ou filmes vistos, um bocadinho daqui e uma sensação tirada dalí que se uniram para criar esta minha memória.

O meu Natal é tudo isso. Não aconteceu como o recordo, mas foi muito bom. Foi o melhor Natal de sempre. Já não se vai repetir. Nunca. Mas foi tão bom como um abraço apertado quando estamos mesmo a precisar. Uma lareira acesa num dia frio, gelado, quase branco de neve mesmo nunca eu tendo visto neve.

Que bom que este Natal está dentro de mim. Posso regressar a ele sempre que quiser. Todos os Natais o recordo e revivo um bocadinho, quando ouço uma música, quando olho para as luzes da àrvore de Natal que já não me apetece fazer, quando cheiro o aroma do pinheiro, que hoje é de plástico, quando como a laranja cristalizada do bolo Rei que antes tinha pequenos brindes.

Este Natal de antigamente é que era bom. Perfeito. Irreal. Só existiu dentro de mim.

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