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Walden ou A Vida nos Bosques

Foto de Henry David Thoreau e a capa da primeira edição de Walden, com uma ilustração da casa feita por Sophia Thoreau, irmã do autor.

Tinha muita curiosidade com este livro que estava na minha biblioteca, à espera de ser lido, desde a Feira do Livro de Lisboa do ano 2000.
Mas todos os livros têm o seu tempo certo para serem lidos e este Walden, foi lido agora, um quarto de século depois de ter sido comprado, numa leitura-conjunta e com alguma conversa pelo meio, o que tornou a leitura ainda mais interessante.
A minha curiosidade tinha muito a ver com a duas citação do professor Keating no filme “O Clube dos Poetas Mortos” mas esta obra não é só isso, ou melhor, é muito mais do que o que estas palavras poéticas, nos levam a pensar.

Fui para os bosques porque pretendia viver deliberadamente, defrontar-me apenas com os factos essenciais da vida, e ver se podia aprender o que ela tinha a ensinar-me, em vez de descobrir à hora da morte que não tinha vivido. (…) Queria viver em profundidade e sugar toda a medula da vida, viver tão vigorosa e espartanamente a ponto de pôr em debandada tudo o que não fosse vida, deixando o espaço limpo e raso;

Uma das ideias erradas que podemos tirar, é que, para escrever este livro, Henry David Thoreau, se afastou da civilização radicalmente. Isso não aconteceu, ele construíu a sua cabana no bosque, num terreno que lhe emprestaram e durante dois anos fez dessa cabana, com poucas comodidades e sem nenhuns luxos, a sua casa. Ele não se tornou um eremita nem isto foi um episódio do “Survivor” do século XIX. Foi um quase um retiro, que o afastou do “ruído da sociedade” e lhe permitiu viver a vida de um modo mais cru e autêntico.

Gravura de Thomas Willoughby Nason

Nestes dois anos em que decidiu fazer a experiência de viver na cabana nos bosques à beira do lago Walden, junto a Concord, a pequena cidade onde nasceu, perto de Boston, continuou a manter contato com a sua família, em Concord, e com a sociedade, poucos contatos, é verdade, mas suponho que isso se deve mais à sua personalidade de pessoa reservada, do que a uma experiência de isolamento, que não foi o que aconteceu.

Thoreau era um professor e um orador e isso nota-se neste livro de várias formas. Para mim, esta obra é quase um conjunto de textos sobre várias reflexões e assuntos que já povoavam o seu pensamento e que este retiro lhe deu oportunidade para desenvolver.
O primeiro texto, ou primeiro capítulo, intitulado de “Economia” foi para mim o mais difícil e, estando no início, acredito que possa dissuadir alguns leitores de continuarem a leitura. Ele entra “a matar” com algumas ideias quase radicais sobre a maneira de viver espartamente. Por vezes até me soava quase a evangelização, o que me irritou um bocado. O meu conselho é que ultrapassem essa parte, leiam sem levar muito a sério. Está datado e o autor estava energicamente entusiasmado tornando e esticando as suas ideias levando-as ao extremo.

Os textos seguintes são muito melhores, mais moderados e mais belos, descrevendo aspetos da sua vida no bosque, com descrições da zona, da natureza, do passar das estações, das companhias, das visitas, tudo isto doseado com pensamentos filosóficos, observações e opiniões do autor. Alguns textos têm uma beleza quase poética, outros são mais secos, críticos e até políticos. Temos neste Walden, um conjunto de reflexões muito interessantes, vindos de um homem interessante, educado e com algumas características peculiares. Encontramos aqui o professor, o filósofo, o naturalista, o ser-humano curioso, o introvertido e também o político, revolucionário, conservador … todas as facetas, até algumas antagónicas, que compõem o ser humano.

Gostei de conhecer Henry David Thoreau mas, para já, não fiquei com curiosidade de ler mais obras do autor. Esta foi uma leitura muito proveitosa, não sendo fácil, e da qual acho que, o essencial, as partes que mais gostei, vão ficar comigo durante algum tempo.

Compreendi, e isso era algo que me intrigava, a razão deste livro ter tantas edições e traduções pelo mundo fora (quase 4000 registadas no Goodreads). Não é uma leitura essencial, mas é um livro que qualquer ser-humano tem necessidade de pegar numa certa altura da sua vida e de pensar e refletir sobre o que ali está escrito e discutido. Pode não concordar, rir-se ou argumentar, mas são momentos introspectivos pelos quais passa, ideias que, talvez sem esta obra não lhes dedicasse mais do que uns segundos passageiros da sua vida, e depois, ia “descobrir à hora da morte que não tinha vivido.

Uma boa leitura!

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